Em primeira pessoa

Pequenos grandes campeões

por Iris Correia
16 de agosto de 2016


Basta um gole de imaginação no café da manhã para transformar chinelos surrados em traves de futebol. O par de calçados no asfalto marca o lugar do gol na pelada enquanto as crianças brincam de ser Messi, Neymar, Marta, Cristiano Ronaldo. Garanto: até Ronaldo Fenômeno – com seu chinelo surrado – já imaginou ser Zico em Bento Ribeiro.

Imagine só, um par de chinelos ajudou a moldar a personalidade forte de Rafaela Silva. A judoca criada na Comunidade da Cidade de Deus, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, tinha as sandálias roubadas pelos meninos cada vez que ia brincar na rua. De tanto insistir, ganhou um par de chinelos novinho em folha e um aviso de que, sem mais um tostão no bolso, seu pai não compraria outro, caso ela perdesse aquele. Rafaela foi para a rua, brincou e voltou de pés no chão. Levou uma surra e, ali, começou a ser lapidada a medalhista de ouro na Olimpíada.

lindaaa

Seja pelas surras da vida ou pela mania de desejar aquilo que não poderiam ter, atletas do calibre de Rafaela são os mais dedicados e aprendem ainda pequenos a ter um pouco de fé, que “é um modo de já possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se veem”. Aprendem, também, a olhar para os bons exemplos. Eles miram em seus ídolos, imaginam-se em seus lugares e acreditam no impossível.

Rafaela foi campeã em casa, assim como Sir Chris Hoy, britânico que tem seis medalhas de ouro em Olimpíadas no ciclismo. Os dois sabem bem como é duro construir um caminho de vitórias. Em seu livro Fergus Voador, Chris apresenta um personagem que experimenta todas as fases que um atleta vencedor pode passar: um caminho de luta, pranto, glória e dor.

chris hoy

Fergus sonhava em ter uma bicicleta de última geração para derrotar os melhores garotos da equipe da cidade. Na imaginação de Fergus, cabia ser o melhor do mundo. No bolso de sua mãe, cabia uma bicicleta antiga e reformada. Ao construir o caminho de Fergus do sonho até a fé no impossível, Chris Hoy imprime sua experiência de atleta, dando exemplo aos pequenos e mostrando que nunca será fácil.

Fergus_duploO papel de atletas como Chris Hoy, Rafaela Silva e outros medalhistas vai além de impor um ideal de luxo, riqueza e glamour estampados nas capas de jornais. Suas vidas servem para mostrar que é preciso provar para as crianças que nenhum desafio nasce com vencedor. Ou, ainda mais simples: mostrar que, para um futuro promissor, basta seguir a dieta regrada de um gole de imaginação no café da manhã.

* Iris Correia é jornalista esportiva, apaixonada por música e principalmente por Nova York.

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