O COMEÇO DO FIM DO MUNDO: A PRIMEIRA “GUERRA DO ROCK” BRASILEIRA
Davi Hughes escreve sobre festivais de Rock brasileiros semelhantes ao reality do livro de Robert Muchamore17 de maio de 2017
Poucos livros infantojuvenis conseguem nos transportar para momentos e lugares específicos, históricos ou pessoais, e Guerra do Rock foi uma leitura que dialogou muito com meu eu adolescente em diversos sentidos. Foi bom recordar o tempo em que me deliciava com bandas da cena punk pela primeira vez e refletir sobre o quanto ícones como David Bowie, Nirvana e Velvet Underground ajudaram a constituir quem sou hoje como pessoa. É claro, ler aventuras estrangeiras como a de Robert Muchamore sempre deixa em nós uma sensação estranha de tristeza por imaginar esse tipo de coisa como algo passível de acontecer exclusivamente no exterior – mas, ei, e se eu te dissesse que há 30 e poucos anos, algo de impacto semelhante à batalha de bandas Rock The Lock para os personagens de Guerra do Rock ocorreu aqui no Brasil?
Nos dias 27 e 28 de novembro de 1982, o SESC Pompeia, em São Paulo, abriu espaço para O Começo do Fim do Mundo, festival organizado por Antônio Bivar com o intuito de unir os recém-nascidos grupos punks do ABC Paulista que – olha a surpresa – viviam de intrigas uns com os outros.
Bandas como Olho Seco, Cólera, Garotos Podres e Inocentes e Ratos de Porão (você ainda acha a Brontobyte do livro um nome de banda esquisito depois dessa?) se apresentaram entre os dois dias do evento, que também contou com exposição de discos, fanzines e filmes. Para a juventude daquela época, o punk era algo feito para a classe trabalhadora que sofria e estava cansada do sistema econômico aprisionador. No Brasil, o movimento tinha um peso ainda maior de transgressão se levarmos em conta que ainda estávamos no período de ditadura militar.
“Você tem o direito de protestar… PROTESTAR…”
Não é muita surpresa que a polícia tenha invadido o espaço para arrombar a festa: com o clima de gangues dentro da cena e as já citadas intrigas, apesar de no primeiro dia do festival não terem sido registrados conflitos, os tiras apareceram para queimar material e reprimir as pessoas. Houve muita pancadaria e até corredor polonês!
Apesar de não ser tão comentado quanto deveria, segundo a edição número 100 da Rolling Stone Brasil, O Começo do Fim do Mundo foi importantíssimo para que o punk entrasse de vez no cenário musical brasileiro. E se você quiser saber mais sobre o assunto, no ano passado o SESC lançou um documentário superbacana com gravações e entrevistas chamado O Fim do Mundo, Enfim. Ah, tem também esse vídeo de três horas com gravações do festival disponível no YouTube.
Infelizmente a qualidade de vídeo está péssima, MAS levemos em consideração que se isso tivesse acontecido antes de existirem fitas de vídeo, nem esse registro visual existiria. Tenho certeza de que se o Robert Muchamore fosse brasileiro e a história se passasse nos anos oitenta, pelo menos a Industrial Scale Slaughter estaria na headline do Começo do Fim do Mundo.
E se você acha que essas histórias são coisas que ficaram pro tempo da carochinha, não se preocupe: há muitos festivais de rock bacanas que acontecem em várias cidades do Brasil. Há dois anos na minha cidade, por exemplo, acontece o DoSol – e a lineup do ano passado é algo equiparável à do Rock the Lock. No ano retrasado houve até show da Plutão Já Foi Planeta, que participou do último Superstar (e eu moro longe pra caramba do eixo Rio-São Paulo).
Sei que essas coisas iradas não acontecem com frequência mas, enquanto a gente espera o próximo gig, que tal acompanhar – preferencialmente com uma playlist cheia de músicas incríveis – as aventuras de Jay, Summer, Dylan e toda a galera de Guerra do Rock?
Adoro os textos do Davi, ja o sigo no seu site, mas estou feliz que eu tenho outro lugar onde eu possa encontrar os seus textos.
Que ótimo, Drika.
Obrigado pela mensagem, ótima leitura!!!