
Rio Antigo
Autor: ANATOLE JELIHOVSCHI
512 pp. | 14x21 cm
Assuntos: Ficção – Romance/Novela, Ficção Nacional, Suspense
Selo: Editora Rocco
Nos idos do Brasil Imperial da segunda metade do século XIX, Afonso é um jovem arredio, fechado, marcado por um grande trauma: o assassinato da mãe pelo pai, que se matou logo em seguida ao homicídio. Adotado por um casal de tios, muda-se para a Fazenda Ferreirinha, próxima a Vassouras, onde tem sua infância e juventude marcada pelas atitudes truculentas do primo mais velho, João Bento, pela paixonite da prima Felícia, e pela desumana divisão entre casa-grande e senzala. Mas há algo de estranho com Afonso, e ele sabe disso: é frio, calculista, manipulador e não partilha das emoções e dos valores comuns às pessoas a sua volta. Pior: tem prazer com a crueldade e se alimenta da dor que vem do sofrimento alheio. Fossem os estudos sobre psicologia mais avançados na época, ele seria classificado como um legítimo sociopata, cujos crimes vão abalar a então capital federal do início do século XX. É este o mote de Rio Antigo – Confissões de um assassino da Belle Époque, surpreendente romance de Anatole Jelihovschi.
Rio Antigo é um thriller psicológico cujo narrador é o próprio criminoso. É pelo olhar de Afonso que se apresenta o panorama de uma cultura e de uma sociedade em que seus crimes acabam, muitas vezes, por serem pequenos diante de tantas demonstrações de monstruosidades cotidianas. Na virada do século, o Rio de Janeiro é uma cidade em convulsão: os cortiços tomam as vielas do Centro, tornando o lugar insalubre com a proliferação de doenças e perigoso com marginais, capoeiras e malandros prontos para atacar os mais desavisados. A miséria transforma a vida dispensável e agride-se e mata-se por meras moedas. É neste caldo que Afonso consolida seu gosto pelo assassinato, cultivado muitos anos antes, entre os senhores e escravos da Fazenda Ferreirinha.
O autor mostra nesta obra a construção de um serial killer. Na fazenda, Afonso tornou-se conhecido pelo gosto com que matava bois, galinhas e porcos: ele prolongava ao máximo o sofrimento dos animais para, então, tirar-lhes a vida. Mas estas mortes nada tinham de excitante já que os bichos tinham pouca ou nenhuma noção de que seriam abatidos. E era o desespero diante da morte eminente que mais agradava a Afonso. Observando os escravos e suas crenças que incluíam sacrifícios, ele aprendeu a ver a morte como um ritual. E sua trilha de corpos começa na própria família que o adotara. A começar por seu primo João Bento, ele mesmo uma pessoa desprezível, que estuprava e agredia escravos como se praticasse um esporte. Ao mexer com Enfrenta Onça, um escravo, por provocação de Afonso, decretou sua morte de forma horrível: foi assassinado com mordidas no pescoço pelo homem enlouquecido, uma prática que Afonso adotaria anos depois com algumas de suas vítimas.
O desprezo pela vida e sua associação com o “coisa-ruim”, cuja presença sente em sonhos e visões, fazem de Afonso uma pessoa isolada emocionalmente das pessoas mas, ainda assim, socialmente carismática. Os anos que passou morando em Paris, capital que influía na vida cultural da pretensamente elegante e muito arrogante sociedade carioca, deu a ele passe livre para circular entre homens de negócios e intelectuais da época. Nos debates que se seguiam em cafés da Rua do Ouvidor e na Confeitaria Colombo só se falava da decadência da cidade e de como as reformas do prefeito Pereira Passos viriam a mudar este panorama, com o fim dos cortiços e a abertura de grandes e arejadas avenidas ao estilo da capital francesa. Afonso, um ser das trevas, cuja trilha de morte inclui justamente esses lugares sombrios e moribundos, onde a vida de um homem vale menos que a de um rato, não vibra com a possibilidade de o Rio se tornar uma nova Cidade Luz. Como ele fará para se manter impune em sua busca pelo prazer do sofrimento com as drásticas mudanças que a cidade passará é o que Anatole Jelihovschi mostrará ao leitor em Rio Antigo – Confissões de um assassino da Belle Époque.
O AUTOR
Anatole Jelihovschi trabalhou a maior parte de sua vida como engenheiro. Dedica-se à carreira de escritor desde 2004. Além de Rio Antigo – Confissões de um assassino da Belle Époque, publicou Aves migratórias, romance ambientado durante a Segunda Guerra Mundial. Atualmente, mora na cidade do Rio de Janeiro.