Capa de Olhos de Bicho

Olhos de Bicho

Autor: IEDA MAGRI

160 pp. | 14x21 cm

Assuntos: Ficção – Romance/Novela, Ficção Nacional

Selo: Editora Rocco

Impresso

ISBN: 978-85-325-2848-3

Preço: R$ 29,90

E-book

Preço: R$ 16,00

E-ISBN: 978-85-81222-62-2

Emma, uma atriz de meia-idade, começa a receber telefonemas misteriosos. Do outro lado da linha, uma voz feminina descreve diferentes formas de cometer suicídio. “Instruções para se matar”, anuncia, e narra em detalhes como seria se jogar ao fundo do mar, com pedras no bolso; ou se lançar ao fosso do metrô, atendendo “a um impulso, a um chamado seco e urgente dos trilhos do trem”. 

Há um permanente jogo de sombras se insinuando ao redor dos personagens de Olhos de bicho, segundo livro de ficção e primeiro romance de Ieda Magri. As ligações à casa de Emma são o ponto de partida para o desvelar de um mosaico narrativo onde diferentes tipos urbanos – todos eles moradores do Rio de Janeiro – têm o cotidiano perturbado por algum detalhe, ausência, susto ou chegada. Por essa sombra sempre à espreita, movediça e insubordinável, como os olhos de uma fera.

Além da história de Emma, diferentes narrativas compõem Olhos de bicho. Uma velha europeia aluga quartos numa mansão no bairro carioca da Urca, e tem sua solidão interrompida pela chegada perturbadora de um novo hóspede. Numa roda, diferentes intérpretes se revezam na leitura da história de dois jovens e seu breve casamento, nos tempos da ditadura militar. Uma mulher persegue seu amante pelas ruas cariocas, obcecada pela vida clandestina com que este ocupa suas quartas-feiras. Um rapaz se vê preso numa casa desconhecida. Entrelaçando essas narrativas, a presença enevoada de um mesmo personagem: R., dono de uma personalidade que se revela apenas pelos estilhaços sombrios do olhar dos outros. Por isso mesmo, dele só se é permitido saber o essencial: trata-se de um sedutor. A onipresença que ameaça, porque indecifrável. Tudo o que ocorre está ao redor dele. Ou melhor, das metamorfoses de R. – um personagem sempre incompleto, sempre fugidio, sempre outro.

Com sua intrincada delicadeza, Olhos de bicho constrói um universo caudaloso. O desenho de uma angústia muito contemporânea – a aflição que assombra página a página deste livro – é calcado em peças do imaginário afetivo de nossos tempos. Uma caixa com fitas VHS onde se adivinham filmes de Godard, reminiscências do Cassino da Urca, o formigueiro humano no Largo do Machado, canções de Jani Joplin e até a apropriação de uma das cenas mais emblemáticas de Roberto Bolaño – o esconderijo no banheiro da universidade. Referências que compõem uma sutil tensão entre o passado recente e o contemporâneo brutal, numa rede inescapável.

Ieda Magri consegue algo raro: criar uma prosa lírica, de contornos altamente poéticos, sem perder sequer por um instante o poder atrativo de uma narrativa onde a vida, com sua perturbadora banalidade, ativa desfechos e reviravoltas insuspeitos. Os objetos e referências mais banais são alçados ao seu lugar de direito na literatura, ao conquistarem o suave deslocamento que faz com que sejam decisivos, inspiradores e eventualmente fatais. Com isso, a autora reforça o que já anunciava em sua estreia, anos atrás: é uma das vozes mais originais da literatura brasileira recente.

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O AUTOR

Ieda Magri nasceu em Águas Frias, uma pequena cidade de Santa Catarina, e vive no Rio de Janeiro. É doutora em Literatura Brasileira pela UFRJ, onde leciona Teoria da Literatura. Estreou na ficção em 2007 com a coletânea de contos Tinha uma coisa aqui (7Letras). Olhos de bicho, seu primeiro romance, ficou entre os finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura.

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