“Pergunta o professor: ‘Como você dividiria em partes iguais 11 maçãs entre 12 crianças? Responder-se-ia de forma não estética: ‘É simples: faria uma compota.’” Esse raciocínio pouco convencional, mas extremamente eficaz, é um dos exemplos presentes em O segredo judaico de resolução de problemas, livro no qual o rabino Nilton Bonder mostra como buscar soluções para os mais diversos conflitos. Para isso, ele se utiliza de uma visão de vida aguçada e bastante perspicaz, popularmente conhecida como iídiche kop – cabeça de judeu –, um processo de questionamento do impossível que permite encontrar saídas para situações aparentemente irreversíveis. A força dessa postura se expressa na sobrevivência do povo judeu diante das mais variadas conjunturas de ameaça ao longo dos séculos, valendo-se da recontextualização e da criatividade.

O segredo judaico de resolução de problemas estuda a intimidade da tradição judaica com esse método de recontextualização, cujos intricados processos estão fincados no próprio âmago da concepção judaica de observação cautelosa da realidade. Bonder transita entre as quatro dimensões em que a realidade pode ser decomposta, traduzindo-as em quatro mundos: o aparente do aparente (problema literal), o oculto do aparente (problema metafórico), o aparente do oculto (problema alusivo) e o oculto do oculto (problema secreto). Cada um deles possui caminhos próprios que vão sendo abordados ao longo do livro.

Assim, o aparente do aparente é o problema literal, o qual, à primeira vista, diz respeito à dimensão do óbvio e do concreto. Porém, ao se questionar o enunciado das perguntas apresentadas, abrir mão das respostas padrão e romper com condicionamentos mentais e estéticos ultrapassados, os chamados vícios de raciocínio, é possível ir além das conclusões evidentes, descobrindo-se novas formas de compreensão do problema. Já o oculto do aparente, o problema metafórico, tem como principal característica o fato de que o elemento oculto atua salientando o aspecto aparente. Ou seja, o aparente não seria tão aparente se não fosse sua parceria com o elemento oculto. Nessa dimensão, o reframing, as intervenções paradoxais, a transparência, as ironias e as previsões ajudam a encontrar soluções para a situação proposta.

O aparente do oculto, relativo ao problema alusivo, é o mundo apreensível que conhecemos por meio da consciência. Trata-se da dimensão que denominamos inconsciência e onde estão segredos que dão sentidos a questões do mundo aparente. É o terreno da intuição, no qual as conexões entre perguntas e repostas não são evidentes e o absurdo é um elo importante entre lógicas aparentemente desconexas, revelando mais sobre o caráter do oculto que os racionalismos. Por fim, o oculto do oculto, o problema secreto, quando qualquer forma de ação pode promover também discernimento, sendo que é importante conhecer o erro para melhor compreender e identificar o acerto. É o caso de primeiro fazer e depois ouvir – uma inversão paradigmática que é elemento revolucionário, fora dos modelos preestabelecidos, visto que, nesta dimensão, o ensinamento é muito mais vivido do que compreendido.

Assim, por meio de dezenas de antigos contos, anedotas e parábolas, em O segredo judaico de resolução de problemas Nilton Bonder convida o leitor a não ficar preso a um único contexto e a adotar a postura conhecida como think out of the box, literalmente, pensar fora da caixa, raciocinando de forma criativa e inovadora, além das soluções prontas, com a sagacidade de não se deixar ficar preso a um único contexto.

O AUTOR

Rabino da Congregação Judaica do Brasil, Nilton Bonder se destacou internacionalmente como um dos maiores intérpretes literários da antiga sabedoria judaica e também como um ativo defensor e promotor do ecumenismo religioso, atributos que fazem com que seus livros sensibilizem leitores das mais diferentes culturas e nacionalidades.
 
Nilton Bonder publicou mais de uma vintena de livros pela Editora Rocco, entre os quais: Exercícios d’Alma; Portais secretos; O sagrado; Tirando os sapatos; Segundas intenções e a trilogia A Cabala da comida; A Cabala do dinheiro; A Cabala da inveja. Sua obra A alma imoral, que deu origem à peça homônima interpretada por Clarice Niskier, é um dos maiores sucessos do teatro brasileiro em todos os tempos, decorridos mais de dez anos de sua estreia.

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