Capa de O Livro das Minhas Vidas

O Livro das Minhas Vidas

Autor: ALEKSANDAR HEMON

224 pp. | 14x21 cm

Tradução: Geni Hirata

Assuntos: Biografia/Memórias/Diários

Selo: Editora Rocco

Impresso

ISBN: 978-85-325-2853-7

Preço: R$ 34,90

E-book

Preço: R$ 17,50

E-ISBN: 978-85-81222-50-9

Como o russo Vladimir Nabokov e o polonês Joseph Conrad, Aleksandar Hemon também saltou de sua língua-mãe, no caso o bósnio, para o inglês. Aprendendo o inglês tardiamente, o exílio é condição, tema e berço para a literatura do autor deste O livro das minhas vidas.

Originalmente um contista — assim foi descoberto pela revista New Yorker, onde segue colaborador assíduo —, o autor de O projeto Lazarus, E o Bruno? e Amor e obstáculos (todos pela Rocco) volta às origens com esta seleção de “memórias ensaísticas”, que explora sua vida de maneira ao mesmo tempo reflexivamente engraçada e profundamente triste. Começa por sua vida antes da guerra na Bósnia, pintando um vívido panorama cultural do país, que nunca mais foi o mesmo, e sua segunda vida nos EUA, onde se exilou por acaso — passava as férias em Chicago em 1992 quando a guerra eclodiu, e não conseguiu mais voltar.

A trágica história de Sarajevo, particularmente quando foi acossada pelas forças sérvias, é familiar para quem tenha acompanhado pela TV. Mesmo que Hemon atravesse a louca brutalidade do cerco sérvio, a cidade que nos mostra é habitada não por vítimas sem rosto mas por pessoas com planos e ideias e cachorros, demonstrando a habilidade de romancista de Hemon de torná-los concretos. Em um dos relatos, Hemon descreve seu professor de poesia, Nikola Koljevic, como uma figura impressionante, de longos dedos de pianista, que o aspirante a escritor admirava: ao citar Shakespeare em inglês, Koljevic parecia a Hemon a própria encarnação da alta cultura. Mesmo quando o ex-líder sérvio Radovan Karadzic começava a faxina étnica e a destruição de Sarajevo, o professor Koljevic seguiu defendendo-o. Hemon nunca exagera a triste ironia em ver o esteta se tornar um puxa-saco de um genocida; não é seu estilo. Em uma imagem-síntese subversiva, Hemon prefere capturar o paradoxo do caráter de Koljevic, ao traçar uma última imagem do professor, que acabou se suicidando: “Ele teve de atirar duas vezes, seus longos dedos de pianista aparentemente tremeram no complicado gatilho.”

Curiosamente, o texto final, o ensaio “O aquário”, espelha o início do livro. Uma das primeiras memórias de Hemon é a hilariamente infantil “tentativa de assassinato” de sua recém-nascida irmãzinha, por puro ciúme — o relato acaba se demonstrando o aprendizado do amor incondicional. Amor incondicional que é o tema de “O aquário”, um texto à primeira vista pesado — pois recorda a morte de sua filha Isabel, que tinha pouco mais de um ano de idade quando um tumor cerebral a vitimou. Difícil imaginar que qualquer pai tenha lidado tão poderosa ou afetuosamente com o fim da vida de sua criança. Tampouco Hemon deixa a si ou ao leitor desenvolver qualquer indulgência ou sentimentalismo, mesmo ao descrever o jeito pueril como sua outra filha, Elle, brinca de amigo imaginário, quando o autor percebe que é o mesmo processo que usa como romancista “para entender o que é muito difícil para minha compreensão”. Hemon é o tipo raro de escritor que mantém os olhos abertos para detalhes dolorosos em circunstâncias que a maior parte das pessoas lutaria apenas para ficar acordado.

Por Ronaldo Bressane, jornalista, escritor e roteirista dagraphic novel V.I.S.H.N.U. 

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O AUTOR

Aleksandar Hemon nasceu na Bósnia em 1964 e vive nos Estados Unidos desde 1992. Publicou E o Bruno? , comercializado para 18 países e eleito o melhor livro do ano de 2000 pelo Los Angeles Times Book Review e  pelo New York Times Book Review; As fantasias de Pronek, de 2002, finalista do National Book Critics Circle AwardO projeto Lazarus, ganhador do prêmio de Melhor Ficção de 2008 da conceituada revista New Yorker, apontado como um dos cem melhores títulos do ano pelo The New York Times. O autor recebeu os prêmios “Genius Grant”, da Fundação MacArthur, e PEN/W. G. Sebald Award.

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