Capa de No Tempo Frágil das Horas

No Tempo Frágil das Horas

Autor: LUZILÁ GONÇALVES FERREIRA

172 pp. | 14x21 cm

Assuntos: Ficção – Romance/Novela, Ficção Nacional

Selo: Editora Rocco

Impresso

ISBN: 85-325-1556-8

Preço: R$ 27,50

Quem nunca olhou um retrato antigo, de alguém que viveu há muitos e muitos anos, e tentou imaginar como teria sido a vida daquela pessoa, cujos restos mortais talvez nem existam mais? Foi o que fez a escritora Luzilá Gonçalves Ferreira quando se deparou com uma fotografia do século XIX que retratava a baronesa Antonia Carneiro da Cunha. O rosto eternizado em papel fotográfico lhe estimulou a imaginação, a ponto de Luzilá escrever No tempo frágil das horas, delicado romance que refaz a trajetória da nobre senhora pernambucana. Foi preciso muita pesquisa para recuperar datas e fatos marcantes da vida da personagem. Mas seus amores, desejos, frustrações e pensamentos nasceram todos do talento ficcional da autora, cuja sensibilidade conquista o leitor desde a primeira linha: "Os personagens desse romance existiram mas as paixões são imaginadas como sempre."

Antonia era filha de um grande senhor de engenho pernambucano, que arranjou seu casamento assim que a pegou no colo, recém-nascida. Para que sua riqueza permanecesse na família e seu sobrenome não se perdesse, a menina foi prometida em casamento ao próprio tio, Manoel Joaquim Carneiro da Cunha, 20 anos mais velho, que mais tarde seria nomeado barão de Vera Cruz. Antonia casou-se ainda menina, para enviuvar aos 38 anos, bela como nunca e proprietária do centenário engenho de Monjope, na província de Pernambuco.

O livro remonta a um tempo em que as mulheres eram educadas para bordar, cerzir, tocar Chopin ao piano e se guardar para um casamento arranjado. A virgindade era mantida até as núpcias, para ser perdida sem prazer nem informação. Uma vez casadas, a maior conquista que se poderia obter era ver seu nome incluído na relação de senhoras recomendadas da província, uma lista elaborada pela condessa de Barral, preceptora da princesa Isabel e da imperatriz Leopoldina. Aquelas que tinham dinheiro iam regularmente a Paris, a bordo de navios que levavam mais de um mês para chegar à capital francesa. Jarros de Sèvres, cristais de Bacarat e cortinas de seda tinham que compensar todo o desejo que elas eram obrigadas a reprimir.

Outra personagem importante do livro é Maria Amália, sobrinha de Antonia. A moça fora casada com um lorde inglês, mas ficou viúva muito cedo. Por isso, ela acabou se casando uma segunda vez, para desgosto de seus pais, com um conde francês. Como Antonia sequer conheceu o prazer de ser cortejada, visto que seu pai lhe arranjara um marido logo ao nascer, ela se deleita ao ver a jovem Maria Amália viver seus amores com relativa liberdade.

É deste complexo universo feminino de uma outra época que trata No tempo frágil das horas. No fim, suas personagens ainda encontram a decadência financeira, devido a um conjunto de fatores históricos: o fim da escravidão, o avanço da industrialização, a ascensão dos barões do café em detrimento dos senhores de engenho, o deslocamento do poder econômico do Nordeste para o Sudeste do país.

E pensar que esta belíssima obra literária partiu de uma fotografia antiga de Antonia que hoje está na casa de Alzira Guerra, uma amiga de Luzilá Gonçalves Ferreira cujo avô comprara o engenho Tamataúpe, que havia pertencido aos pais da baronesa. Com a ajuda da família da amiga, a escritora recuperou várias histórias que sobreviveram ao tempo. Além disso, foi necessário fazer uma minuciosa pesquisa para compor a trama. No Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco, Luzilá encontrou uma pintura a óleo de Antonia, que lhe inspirou ainda mais. A autora leu cartas de sua personagem histórica, tocou objetos que lhe pertenceram e visitou os lugares que ela amava. Só não entrevistou seus descendentes porque Antonia não os teve.

Luzilá diz que o romance histórico "é um jeito de conciliar a paixão pela literatura e uma certa curiosidade nostálgica com relação ao passado, ao modo como viveram as pessoas que me antecederam no mundo, sobretudo as mulheres. Elas tentaram viver e amar, dentro dos limites que lhes eram impostos, e se construir um destino de felicidade. Seu silêncio me comove".

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O AUTOR

Luzilá Gonçalves Ferreira terminou seu doutorado em Literatura Feminina no século XIX em Paris. Professora da Universidade Federal de Pernambuco, é autora de ensaios sobre Fernando Pessoa e teve um romance, Muito além do corpo, premiado na IV Bienal Nestlé de literatura. Seu romance Os rios turvos ganhou o Prêmio Joaquim Nabuco de biografias da Academia Brasileira de Letras (1992).

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