
Música, Mente, Corpo e Alma
Pianista e compositora premiada e professora de piano desde muito jovem, Monique Aragão estreia como escritora — depois de publicar livros de exercícios musicais — com um grande desafio que impôs a si mesma: tentar responder objetivamente a várias questões subjetivas que envolvem sua especialidade. A primeira delas é: o que a música, um poderoso meio de comunicação, comunica exatamente?
Aulas coletivas e particulares e até mesmo conversas com amigos — e com os filhos destes — serviram de inspiração e guia à autora, que trata de cada tema proposto de forma clara, mas sem excessos de didatismo, em capítulos curtos e atraentes, que têm sempre como epígrafe uma frase de algum músico conhecido. Nomes e situações foram alterados, mas todo o conteúdo é baseado em experiências de Monique como educadora e pessoa que pensa a arte a que se dedica.
Explicar a função do intérprete na música e a influência de suas emoções na obra de um compositor; mostrar as diferenças entre talento e técnica e a importância de ambos na vida do artista; encontrar formas para definir o que é a beleza e seu papel numa obra de arte. Estas são algumas das difíceis propostas de Monique, para quem os sons — como ela própria confessa, na introdução — vêm mais facilmente que as palavras.
O tom de conversa faz o texto fluir com leveza, fugindo do hermetismo e de outros obstáculos que pudessem se intrometer na palavra-chave do livro: comunicação. Para entender as emoções que uma música nos transmite, aprendemos que às vezes o truque é nos distanciarmos delas. Imagens são usadas para facilitar a compreensão dos sons; filmes e livros famosos servem para ilustrar temas diversos e explicar o aparentemente inexplicável, como a beleza — para explicar como a percebemos por intermédio dos cinco sentidos, por exemplo, a autora lança mão de “Ray”, “A sereiazinha”, “O perfume” e “Como água para chocolate”, entre outros.
Personagens mitológicos, como Zeus, Narciso, Dionísio e Chronos, também servem de ferramenta a Monique, que passeia pela cultura clássica e pela cultura popular — incluindo-se aí obras de ficção científica, seriado de televisão e muito mais — para tentar elucidar conceitos como o da genialidade e o que nos motiva a considerar uma música brega ou até mesmo a rejeitá-la por completo — como aconteceu com as últimas obras de Beethoven à época de sua criação.
A tarefa pode parecer hercúlea. No entanto, certamente por tratar a complexidade com uma linguagem simples e direta, o livro flui como se tivesse sido escrito com extrema facilidade e é compreensível até para o mais leigo dos leigos.
O AUTOR
Carioca, nascida a 10 de novembro de 1960, Monique Aragão é pianista, compositora e arranjadora, formada em música pela Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO), onde lecionou de 1999 a 2001. Foi premiada nos concursos Alcina Navarro (1970), Liddy Mignone (1973) e Lúcia Branco (1976) de música erudita e recebeu, em 1992, o Prêmio Sharp de Revelação Instrumental por seu primeiro disco.
Compôs trilhas originais para filmes, peças teatrais e musicais e espetáculos de dança, produziu e escreveu os livros de partituras “Coral Hoje” (1989), “O Melhor de Ernesto Nazareth” (1997) e “Seis Estudos para a Mão Esquerda” (1997) e foi professora de interpretação e técnica vocal em três edições do programa “Fama”, da Rede Globo.
Hoje, com 14 álbuns lançados, trabalha como diretora musical e arranjadora no teatro e como produtora musical na televisão. Em 2009, foi um dos dez nomes escolhidos pelo Conselho Nacional de Mulheres do Brasil para receber o título de “Mulher do Ano”, por seu destaque na categoria Música.