
Minhas Queridas
E-book
Preço: R$ 25,50
E-ISBN: 978-85-8122-580-7
Minhas queridas tem uma importância singular para entender a trajetória literária de Clarice Lispector e, mesmo, apontar novas leituras sobre a sua biografia. Organizado pela professora Teresa Montero, autora da biografia Eu sou uma pergunta (Rocco, 1998), o livro traz 120 cartas inéditas escritas por Clarice Lispector para as irmãs, Tania Kaufmann e Elisa Lispector, entre 1940 e 1957. Enquanto relata suas impressões sobre as 31 cidades por onde passa, as novidades da literatura, da música, do cinema e do teatro, a descrição do seu processo criativo, suas angústias acerca da publicação e repercussão de seus livros, a escritora mostra a história do amor e da ternura entre ela e suas irmãs, onde a vida privada é pontuada por momentos importantes da história política da Europa e dos Estados Unidos. A coletânea chega às livrarias em novembro, encerrando o ciclo de comemorações pelos 30 anos de A hora da estrela, publicado em outubro de 1977.
No período abordado no livro, durante os 13 anos vividos no exterior, Clarice Lispector escreveu dois romances – A cidade sitiada (1949) e A maçã no escuro (1961), visto que O lustre, publicado em 1946, já estava concluído quando a autora mudou-se para Nápoles e vários contos, incluídos nos volumes Laços de família (1960) e A Legião Estrangeira (1964). As cartas permitem acompanhar, portanto, o processo de realização destas obras e a reação da autora às impressões da crítica especializada e de amigos mais próximos. Mas a ânsia em receber notícias das irmãs parece tão grande quanto a necessidade de escrever: “… Penso que vocês acham que eu levo tal grande vida que menos cartas, mais cartas, me dá no mesmo. Que eu levasse essa tal maravilha de vida, e precisaria de cartas de vocês”, diz Clarice, de Nápoles, em 1944.
Além de acompanhar o contexto em que Clarice Lispector produziu os seus primeiros livros, as cartas reunidas em Minhas queridas pontuam também o universo artístico que inspirou a escritora durante sua estada no exterior, das músicas que ouviu, aos filmes e concertos a que assistiu e livros que leu. De Chopin a Beethoven, de Carmen Miranda a Vicente Paiva, os cantores citados nas cartas delineiam uma trilha sonora para a trajetória de Clarice. Numa das cartas ela conta ter lido O amante de Lady Chaterley, de D.H. Lawrence; noutra revela suas primeiras impressões sobre o Existencialismo e diz a sua irmã Elisa: “Vou lhe mandar um livrinho sobre essa filosofia, do mestre dela mesmo, Jean-Paul Sartre.”
Há também impressões de viagem, pontuadas por observações às vezes desconcertantes. No Egito, Clarice declara que as pirâmides “são uma beleza, infelizmente tão exploradas que diante delas a gente só pode ter uma sensação já descrita no almanaque da saúde da mulher”; ela diz. Berna “é uma cidade encantadorinha, limpíssima”; e Florença “é uma maravilha… é um lugar ideal”. Apesar de se encantar com os lugares que visita Clarice nunca deixa de ressaltar a dificuldade de viver longe de casa e a saudade que sente da família.
A leitura se faz ainda mais saborosa por permitir ao leitor partilhar da intimidade de Clarice Lispector. É comovente acompanhar a doçura com que trata as irmãs, freqüentemente chamando-as de “bichinha” e o carinho com que sempre se refere à sobrinha, Marcinha. Traços pouco conhecidos de sua personalidade afloram nesta conversa entre irmãs, desconstruindo aquela imagem da escritora enigmática e de poucas palavras, cristalizada pelos comentários apressados e superficiais de quem não a conheceu de perto. Há anedotas divertidas, como quando conta que, em Lisboa, os portugueses a chamam de “B’ronica Lake” (Veronica Lake), e casos curiosos como seu encontro com Eleanor Roosevelt, a quem descreve como “vestida com bastante modéstia” .
Numa época em que e-mails, mensagens de texto e recursos como MSN – todos imediatos e descartáveis – substituem a palavra sobre o papel, é fascinante mergulhar na correspondência de Clarice Lispector, acompanhar com ela a ansiedade de receber uma carta que levava semanas para chegar, as dificuldades para conseguir uma fotografia das irmãs ou da sobrinha, o êxtase de abrir um envelope contendo recortes de jornais brasileiros ou um livro. Cada carta de Minhas queridas é uma agradável surpresa para o leitor, tal qual as cartas de suas irmãs eram para Clarice.

O AUTOR
Reconhecida pela crítica literária brasileira e estrangeira como uma das maiores escritoras do século XX, Clarice Lispector mudou os rumos da narrativa moderna com uma escrita singular, passando por diversos gêneros, do conto ao romance, da crônica à dramaturgia, da entrevista à correspondência e, também, pelas páginas femininas.