DNA, filamentos, genética. Desde que as investigações feitas pelo monge austríaco Gregor Mendel em meados do século XIX a respeito dos traços hereditários das ervilhas foram usadas para estabelecer os fundamentos da compreensão das pessoas sobre genética, tem-se aprendido que o ser humano é algo bastante previsível, resultado apenas dos genes herdados de gerações anteriores. Seguindo um senso comum determinista e, por que não, fatalista, as pessoas não teriam muita escolha sobre o que recebem ou transmitem, pois o legado genético já estava completamente fixado quando cada um foi concebido. Segundo o premiado médico geneticista norte-americano Sharon Moalem, isso está errado. Em Herança – Como nossos genes transformam nossas vidas e como nossas vidas transformam nossos genes, segundo livro da coleção de ciência Origem, o autor desconstrói sensos comuns relacionados à genética, a partir de casos complexos e estudos recentes, em linguagem acessível a todos.
 
Moalem mostra que há inúmeros fatores que podem influir na herança genética das pessoas, fazendo com que cada uma, numa combinação extremamente diversificada, reaja e deflagre processos únicos. Seja na mesa de trabalho tomando café, em casa jogado no sofá, ou passando uma temporada numa estação espacial, o DNA está sendo constantemente modificado. Como milhares de interruptores, genes são frequentemente ligados e desligados, em resposta ao que as pessoas estão fazendo, vendo ou sentindo. E esse processo é mediado, entre outros fatores, pelo estilo de vida, local de moradia, nível de estresse e pelo o que se consome.

E é a conjunção de tudo isso com a influência da herança genética que determina o presente e o futuro de cada um. É o caso de Grace, uma criança chinesa adotada pelo casal Liz e David. Ela sofre de uma rara condição que deixa seus ossos quebradiços. Sua expectativa de vida seria muito pequena, não fossem o amor e a dedicação de Liz e David. Seus ossos provavelmente não chegarão a ser tão fortes quanto os das outras pessoas, mas ela vem superando barreiras que a deixam mais resistente. Seu genoma não é um livro já escrito, editado e publicado. É uma história sendo contada por ela mesma.

O autor desconstrói outro mito: há heranças genéticas semelhantes, mas não idênticas entre dois seres humanos. Assim, nem sempre um tratamento, ou uma simples dieta alimentar, vai funcionar igualmente para todos. Caso de Jeff, um chef que, ao seguir uma dieta mais saudável, aumentando o consumo de frutas e legumes, desenvolveu um câncer, e descobriu que sofria de intolerância hereditária à frutose.    

Moalem destaca, por isso, a importância de olhar a herança genética para se definir uma vida mais saudável, já que o que é considerado universalmente aplicável pode se mostrar inútil – e até mesmo perigoso, como no caso da dieta de frutas. E ele diz que nem sempre é necessário sequenciar o DNA – um procedimento ainda muito caro e inacessível para a maior parte da população – para descobrir síndromes e doenças potenciais. Aspectos físicos, como a fenda de um queixo, o espaço entre os olhos e até mesmo cílios extras podem dar pistas de doenças do desenvolvimento e genéticas raras.Herança leva o leitor num passeio pela montanha-russa que é o genoma humano, mostrando que o futuro não está escrito em se tratando de genética.  

O AUTOR

Sharon Moalem é cientista, médico e autor best-seller do New York Times pelos livros Survival of the Sickest e How Sex Works. É detentor de diversas patentes premiadas de invenções relativas à biotecnologia, incluindo a do antibiótico Siderocillin. Suas pesquisas já foram pauta de matérias de veículos como New York Times, Guardian, Time e New Scientist, e da rede de TV CNN.

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