
Ele Me Trocou por uma Porca Chauvinista
Já é hábito da escritora Stella Florence usar sua literatura ficcional para remexer em temas essenciais e pouco explorados, como no caso do best-seller Hoje acordei gorda, dirigido aos gordinhos e pseudogordinhos. Neste novo livro, de título igualmente inusitado, Stella agita uma verdadeira casa de marimbondos ao tratar de um assunto polêmico e urgente: o machismo das mulheres. A obra, apesar de ser puro entretenimento, abre a discussão sobre a herança machista que, ainda hoje, é cultivada pelas mãos mais insuspeitas: as mãos das próprias mulheres, vítimas e algozes de si mesmas.
Ao lançar Por que os homens não cortam as unhas dos pés?, no ano passado, a autora obteve de muitas mulheres a seguinte resposta: os homens não cortam as unhas porque simplesmente nós o fazemos para eles. A partir dessa confirmação nasceu o Ele me trocou por uma porca chauvinista, que explora não só o machismo como a subserviência feminina, a traição e o aborto.
O leitor poderá refletir sobre esses assuntos enquanto se diverte com a saga de Virgínia, uma típica mulher moderna de 42 anos que, depois de dois filhos e um longo casamento, é abandonada subitamente por Antônio, seu marido. Arrebatada pela idéia fixa "O que a outra tem que eu não tenho?" Virgínia se envolve numa torrente de aventuras até escalpelar não só a personalidade da amante de seu marido bem como de toda uma geração que com ela se identifica.
Além dessa novela, que dá título ao livro, o leitor também encontrará outras oito histórias que passeiam pelo universo feminino com o mesmo estilo que consagrou a autora: abordagem de temas sérios mas muita emoção e bom humor. A mulher escrava do lar, a sogra ciumenta, o marido que tem mais consideração por um objeto do que pela esposa, as fãs histéricas, uma gravidez indesejada e a conseqüente dúvida de ter ou não a criança, o namorado violento.
Num dos momentos mais hilariantes do livro (o texto de humor negro Escrava de quem?), a autora esquadrinha a mente de uma dona de casa que se faz de vítima ao se esfalfar no trabalho doméstico mas não admite, em hipótese alguma, receber ajuda nem do marido, muito menos dos filhos homens. É ler e chorar de rir. Para certas mulheres, um riso amarelo de vergonha.
O delicioso texto de Stella tem esse sortilégio: faz com que a gente enxergue o óbvio, chore do óbvio, gargalhe do óbvio, e, finalmente, aprenda com ele.

O AUTOR
Stella Florence é escritora, tem 30 tatuagens e vive em São Paulo. Com seu verbo ácido e bem-humorado, é autora de nove livros, entre romances, coletâneas de crônicas e juvenis. Stella é cronista veterana (Criativa, Bolsa de Mulher, Ouse, iTodas) e hoje escreve para a revista Top Magazine. Mais informações no site www.stellaflorence.net e na fanpage www.facebook.com/escritora.stellaflorence.