
Chinês com Sono
O novo trabalho do poeta Leonardo Fróes são dois livros em um. Ou, como ele prefere dizer, é um livro de face dupla. A primeira parte da obra, Chinês com sono, reúne a mais recente safra de poemas do autor; a segunda, Clones do inglês, é uma compilação da poesia de grandes escritores de língua inglesa do século XVI ao XX, sendo que quase todos os textos selecionados permaneciam até agora sem tradução para o Português. No poema “Labial”, Fróes diz que “Não há como dizer o que se sente”. Mas não é verdade. Os textos reunidos em Chinês com sono comprovam seu habitual talento para dizer o indizível, quase sempre promovendo a comunhão entre o Homem e a Natureza. Muitas vezes, é poesia e fábula ao mesmo tempo. Seus personagens vêem os insetos como broches vivos a adornar a pele, excitam-se ao se banharem nus no açude, dançam na chuva, sentem a neblina envolver seus corpos como se fosse uma amante voraz, lêem presságios nas nuvens. Furacões, tempestades, matagais, vales e feras se confundem com os sentimentos humanos.
Na poesia de Froés, tudo está indiscutivelmente integrado à Natureza, como “o ferro de um portão carcomido / e retorcido como galhos velhos se mostra / tão enlaçado pelas plantas que nem / se sabe mais se é de madeira ou ferrugem”. Alguns poemas de Chinês com sono são inspirados no legado de grandes sábios chineses do século VIII ao XIII, como Lu-Yu, Chih-Yuan e Wang-Wei. Os textos, que Fróes chama de derivações, são frutos do conhecido interesse do autor por contos e lendas orientais. Na segunda parte do livro, Clones do inglês, Fróes compartilha com o público brasileiro suas traduções para poemas de Jonathan Swift, Emily Brontë, e. e. cummings, Thomas Hardy, Thomas Wyatt e outros mestres. São textos que, em geral, também procuram traduzir em palavras os mais complexos sentimentos, muitas vezes associando-os a fenômenos naturais, como Fróes costuma fazer. Ele explica: “O autor da primeira parte, Chinês com sono, anuncia: ‘Vivo entre poetas antigos.’ E a segunda, Clones do inglês, é a confirmação desse fato.”
O AUTOR
Leonardo Fróes ganhou o prêmio Jabuti de Poesia, em 1996, e os prêmios de tradução da Biblioteca Nacional, em 1998, e da Academia Brasileira de Letras, em 2008. É um dos mais respeitados tradutores do país, graças aos trabalhos realizados com grandes nomes da literatura, como William Faulkner, George Eliot, Malcolm Lowry e Lawrence Ferlinghetti. Leonardo Fróes mora em Petrópolis, Rio de Janeiro.