
Cantiga de findar
Coleção Coleção Otra Língua
Autor: JULIÁN HERBERT
256 pp. | 14x21 cm
Tradução: Miguel del Castillo
Assuntos: Ficção – Romance/Novela
Selo: Editora Rocco
E-book
Preço: R$ 22,50
E-ISBN: 978-85-8122-472-5
Cantiga de findar, de Julián Herbert, engrossa um filão literário moderno que já desfruta status de tradição: a narrativa em que se cruzam verdade autobiográfica e ficção pessoal, resultando uma ambiguidade perfeita e insolúvel. O que se passou de fato? E o que não se passou? Nunca saberemos. Assim, na dúvida, a leitura é sempre mais instigante e prazerosa.
Publicado em 2011, o livro fez do autor mexicano um nome internacional, com seguidas traduções, além de lançamento nos demais países de língua espanhola, reconhecimento da crítica e apreço dos prêmios de romance Jaén e Elena Poniatowska (em 2011 e 2012, respectivamente). Nele, conta-se uma dura história.
Guadalupe Chávez, a mãe do narrador, uma mulher que foi bela quando jovem e ganhou a vida como prostituta, está com leucemia, presa a uma cama de hospital, “com os braços cheios de hematomas causados pelas agulhas, conectada a equipos translúcidos manchados de sangue seco, transformada agora numa espécie de mapa químico por pequenos letreiros que anunciam, em caneta Bic e cheios de erros ortográficos, a identidade dos venenos que lhe injetam”.
No quarto 101 do Hospital Universitário de Saltillo (Coahuila, México), um homem chamado Julián Herbert – o mesmo nome do autor do livro – cuida de dar banho e de comer à paciente. Ao mesmo tempo escreve quase às escuras num laptop sobre sua mãe. Ela teve cinco maridos e um dia foi “belíssima: baixinha e magra, o cabelo liso caindo até a cintura, o corpo maciço e uns traços indígenas sem-vergonhas e reluzentes”. Também descreve a progressão da doença dela até a morte.
Quem narra, na atualidade, é um autor adulto, mais ou menos consagrado, que recebeu prêmios literários e constantemente viaja para participar de festivais em Berlim e Havana. Fica evidente que o narrador compartilha quase todas as coordenadas biográficas de Julián Herbert, o escritor de carne e osso.
Mas a força do texto em Cantiga de findar (Canción de tumba, no original) não reside no seu caráter de testemunho, e sim na sua potência como romance puro e simples. Sobretudo na linguagem utilizada, que nos chega de forma poderosa, barroca, musical, por vezes deselegante mas eficiente.
A estratégia de mesclar verdade e ficção íntimas é recurso consagrado por André Malraux, Loius-Ferdinand Céline, Patrick Modiano – autores de língua francesa, na qual apareceu o termo “autoficção” – e também pelos espanhóis Javier Marías, Enrique Vila-Matas e Javier Cercas. Da mesma geração de Julián Herbert, há os exemplos do chileno Alejandro Zambra, com Formas de voltar para casa, e da também mexicana Guadalupe Nettel, com O corpo em que nasci, publicada na coleção Otra Língua, da Rocco.
Composto por peças soltas – contos na melhor classificação do gênero, diatribes contra o México (chamado ironicamente de “Suave pátria”, como no poema de Ramón López Velarde), pequenas vinhetas, trechos de diários e de lembranças, homenagens a Guillermo Cabrera Infante – que se encaixam de maneira um tanto caótica mas sem perda da fluidez narrativa, o livro em algumas dessas partes beira o ensaio, utilizando-se de outro dos recursos do romance moderno.
Num trecho em especial discute-se o gênero memorialístico à luz dos ensinamentos do escritor irlandês Oscar Wilde: “Wilde considerava que escrever autobiograficamente reduz a experiência estética. Não concordo: apenas a proximidade e a impureza de ambas as áreas podem criar sentido. (…) Escrevo para transformar o perecível. Escrevo para entoar o sentimento. Mas também escrevo para tornar menos incômodo e tosco este sofá de hospital.”
São palavras que, segundo nota o diplomata Gustavo Pacheco no posfácio, compõem uma declaração de intenções do autor, e que, de certa forma, explicam a natureza híbrida do livro.

O AUTOR
Julián Herbert nasceu em Acapulco em 1971. Reconhecido como um dos poetas mexicanos mais importantes da atualidade, publicou Kubla Khan (2005, Prêmio Nacional de Literatura Gilberto Owen) e Álbum Iscariote (2013), entre outros livros de poesia. Como ensaísta, o volume Canibal. Apuntes sobre poesía mexicana reciente (2010). Entre seus livros de narrativa, destacam-se o romance Un Mundo Infiel (2004) e os contos de Cocaína – Manual de Usuario (Prêmio Nacional de Cuento Juan José Arreola 2006). Cantiga de Findar, originalmente publicado em 2011, ganhou o Prêmio Jáen de romance e o Prêmio Elena Poniatowska em 2012.