
Algaravias
Impresso
ISBN: 978-85-325-2240-5
Preço: R$ 21,00
Segundo consta no Dicionário Etimológico da Língua Castelhana, “algaravia” é uma palavra coringa, de significado múltiplo: língua árabe, linguagem quase ininteligível e coisa difícil de perceber. “Algaravia” é também o nome de uma planta de arbustos diversos – a exata diversidade lírica que se espraia pela obra de Waly Salomão, contumaz e grande leitor da poesia universal e do mundo, que, enquanto “poeta polifônico”, reprocessava todas as influências para depois canalizá-las em sua própria voz poética de “parangolé” – vocábulo que o artista plástico Hélio Oiticica, amigo de Waly, dizia exprimir a “antiarte por excelência”.
Nesta reedição da coletânea de poemas publicada originalmente em 1996, Algaravias: Câmara de ecos, agraciada com o prêmio Alphonsus de Guimarães, da Biblioteca Nacional, e com o Jabuti, em 1997, na categoria poesia, o mais dileto filho de Jequié, na Bahia, de pai sírio e mãe baiana, trabalha com quatro caminhos temáticos: a reflexão sobre a poesia, o mito pessoal e/ou nacional, a ironia dos périplos e viagens, e a lírica da quase intimidade – e “quase” porque suprimia as fronteiras entre o eu e o outro. “Agora, entre meu ser e o ser alheio/ a linha de fronteira se rompeu.”
O tom fortemente declamatório dos poemas pode confundir o leitor a pensar que a escrita do performático Waly Salomão era um mero derramar de intuições e achados, mas isso não é verdade. Poesia é trabalho. Ou “Alguém acha que ritmo jorra fácil,/ pronto rebento do espontaneísmo?” Poesia é suor, o resto é psicografia. De acordo com o próprio poeta, “para fundar Roma” é preciso “ler, ler e ler”. Waly exercia com seriedade – sem por isso descambar para o clichê institucional de correção e postura – seu ofício de verso, e, como pára-raio cultural, transformava o que absorvia em energia para sedimentar de lampejos calculados e medidos o chão de sua poética.
Nas páginas de Algaravias, o poeta transforma delírio em elegias, dentro do seu estilo palavroso (o que não significa palavras ao vento), como as feitas para o artista catalão Antoní Llena e para a arquiteta modernista ítalo-brasileira Lina Bo Bardi; em poemas dedicados a amigos como o músico Marcelo Yuca, o poeta Chico Alvim e a esposa Marta; em versos que resvalam ou se debruçam sobre grandes nomes da poesia, como os americanos John Ashbery e Wallace Stevens, o inglês William Blake, o francês Paul Valéry e o amigo brasileiro Antonio Cicero.
Por fim, vale ressaltar a força das metáforas walyanas ecoando nas páginas desta coletânea, metáforas que gritam ao leitor uma beleza construída com requinte – “encharcar ao longo do poema inteiro,/ do começo até o fim,/ metáforas, metáforas, metáforas.” O grande escritor argentino Jorge Luis Borges considerava tal figura de linguagem a matéria-prima da poesia. Waly Salomão sabia disso.