
A vida é um escândalo
E-book
Preço: R$ 16,90
E-ISBN: 978-85-8122-705-4
Por Maria Fernanda Macedo*
É animador ouvir de alguém, do alto dos seus 80 anos, que A vida é um escândalo. Ainda mais quando esse alguém é um artista que construiu uma trajetória contundente na poesia, na gestão cultural, na intelectualidade, na educação e na promoção da leitura; mas, sobretudo, quando esta voz de poeta (tão próximo de Drummond, diga-se) revela uma investigação atenta do cotidiano, simultaneamente singela e lúcida.
Affonso Romano de Sant´Anna, professor, poeta, ensaísta, jornalista, cronista, autor do emblemático Que país é este? (de inigualável reverberação nos anos 1980 e ainda aclamado décadas após sua publicação) e de mais de 40 livros, reúne poemas inéditos no lançamento A vida é um escândalo. Os versos mapeiam o mundo sensível do alto de uma longa experiência como um drone, e auscultam o tambor quase inaudível do coração da terra, de si mesmo e do outro.
Nos versos do novo livro de Affonso Romano de Sant´Anna, o autor, que já levou a poesia à audiência da TV no diário Jornal Nacional, nos conduz a parar, para então perceber o viço das coisas. Há vitalidade no inanimado da natureza discreta e silenciosa: Não há matéria inerte / os seres que não se mexem / se não nos ensinam a morrer, / têm apenas um jeito mais lento / menos violento / de ser. (“Comecei a me interessar”).
Há vitalidade nas paisagens comuns da vida urbana cotidiana, do mundo alheio, de um dia na praia, no olhar sobre e na mulher: elas se deixam levar aos bares / boates e cama / mas pensam em outra coisa / – na lua, talvez / espelho imenso em que as fêmeas se miram / e de onde tiram a força / que as sublimam . (“Na praia”).
Há viço e escândalo na revelação libertadora da cartografia íntima: Sossega teu ego. / O mundo não necessita de ti. (“O que te leva a pensar”). Há vida na renovação e no desapego aos conceitos: Sobre o amor / desaprendo ternamente. (“Agora que não sei mais o que sabia”).
Enfim, a vida só pode ser um escândalo para quem sabe lê-la e para quem se propõe a dialogar com a poesia das coisas. O poeta partilha a medida da curiosidade nas páginas saborosas de A vida é um escândalo: nunca se sabe / se o que ardeu /é epitáfio de algo que morreu / ou espetáculo / em combustão. (“Como o primitivo”).
*Maria Fernanda Macedo é jornalista e curadora da FLINF (Festa Literária de Nova Friburgo).

O AUTOR
Um dia dizendo seus poemas na Irlanda, no Festival Gerald Hopkins (1996), ou na Casa de Bertold Brecht, em Berlim (1994), outro dia no Encontro de Poetas de Língua Latina (1987), no México, ou presente num encontro de escritores latino-americanos em Israel (1986), ou participando no International Writing Program, em Iowa (1968), Affonso Romano de Sant’Anna tem reunido, através de sua vida e obra, a ação à palavra. Foi assim quando, em 1973, organizou na PUC-Rio a EXPOESIA, que congregou 600 poetas desafiando a ditadura e abrindo espaço para a poesia marginal; foi assim em 1963, no início de sua vida literária, quando se tornou um dos organizadores da Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, em Belo Horizonte. Com esse mesmo espírito de aglutinar e promover seus pares, criou, em 1991, a revista Poesia Sempre, que divulgou a poesia brasileira no exterior e foi lançada tanto na Dinamarca quanto em Paris, tanto em San Francisco quanto Nova York, incluindo também as principais capitais latino-americanas.