Extremamente sensível e muito bem-humorado, A tartaruga e o guerreiro fala de amor não correspondido, de fidelidade e também estimula o jovem leitor a procurar os grandes clássicos, a começar por Dom Quixote, de Miguel de Cervantes. Afinal, quem não fica curioso para conhecer o cavaleiro espanhol que desperta – assim como nas páginas de antigamente – a paixão irrestrita e absoluta da encantadora Dulcinéia?

Mas nossa Du não é o cachorrinho que o menino dessa história sonhou ganhar. Na realidade é o mascote mais fora do comum que ele já viu. Não dispara pela casa, não agita o rabo, não pula em cima de ninguém, não sai para pegar o que é atirado longe, não rola no chão e não faz barulho. Aliás não faz absolutamente nada. Cumpre à risca o seu papel. Trata-se apenas de uma tartaruga e como tal se comporta. Lenta, quieta, comedora voraz de alface, e inacreditavelmente apaixonada por uma estátua em bronze de Dom Quixote, que como ela fica imóvel em um canto da sala.

Também costuma não dar a menor confiança para seu dono. Parece nem saber que ele existe. Se fosse um cachorro ficaria atrás dele o tempo inteiro. Mas Du só quer saber mesmo de permanecer lá, no canto dela, comendo alfaces e "namorando" Dom Quixote, o destemido cavaleiro que lutava até contra moinhos de vento para conquistar pelo menos um sorriso, de sua bem amada Dulcinéia.

Sempre parada, cabecinha para fora, olhando com olhos fixos para o rosto de seu príncipe. De noite, então, só dorme aos pés dele. Assim, no melhor estilo devagar quase parando, ela pode até não conseguir conquistar Dom Quixote, mas certamente levará na bagagem, quer dizer, no casco, a melhor parte do coração de todos os seus futuros leitores. Poucos seres deste mundo sabem tanto sobre como viver a vida com simplicidade e generosidade. Du sabe. E já que está disposta a revelar todos os seus segredos, quem é bobo de perder esta chance?

A tartaruga e o guerreiro faz parte da coleção Bichos e Outras Histórias, que reúne grandes nomes da literatura brasileira, como Carlos Heitor Cony, Fernando Sabino e Moacy Scliar, escrevendo sobre animais de estimação e recordando a infância, numa mistura de ficção e realidade.

O AUTOR

Luiz Antonio Aguiar se descobriu escritor escrevendo (e adorando o ofício) seu primeiro livro infantil, Tristão, as aventuras de um garoto da cidade grande há 15 anos. Atualmente tem quase 60 títulos publicados, todos eles para crianças e adolescentes. Ganhou o prêmio Jabuti em 1994, o ABL-UBES em 1995 e 1996, além de várias recomendações da FNLIJ. É mestre em literatura brasileira, animador de oficinas de redação e leitura, tradutor e redator, além de ocupar, desde 1999, o cargo de diretor-executivo da Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil – AEI-LIJ.

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