Sobre livros, bibliotecas e livrarias

Mariana Fonseca comenta a relação que todo leitor tem com os templos da leitura
21 de fevereiro de 2019


Quando sento para ler em uma biblioteca ou quando passeio entre as estantes de uma livraria, tocando as lombadas nas prateleiras como quem cumprimenta velhos amigos, sinto como se chegasse em casa. Estar rodeado de livros é sempre mágico.Como qualquer leitor, encaro o encontro com um bom livro como um abraço quentinho. Mas quando esse livro me transporta para o aconchego de uma biblioteca, livraria ou mesmo uma roda de leitura, a magia desse encontro se intensifica.

Livrarias e sebos são o habitat natural dos amantes de livros. É o nosso porto seguro e também de onde partimos em direção a novas aventuras, até aquelas que nunca pudemos prever. Estar em uma livraria é abrir-se para infinitas possibilidades. Como Rosalind Shaw de Lendo de cabeça para baixo pôde comprovar, uma livraria pode inclusive ser a sua salvação.

É claro que nem sempre é o caso. Em Você, Caroline Kepnes nos mostra que livrarias podem também ser locais perigosos. Talvez pela sensação de pertencimento e aconchego, a gente baixe a guarda quando se vê rodeado de livros. Mas e se um livreiro se apaixona por você? E se ele decidir ultrapassar todos os limites do apropriado, aceitável e até mesmo moral para conseguir o que quer? É preciso estar atento numa livraria.

Bibliotecas são tão ou mais poderosas. Recebem de braços abertos leitores de todos os tipos e, como se fossem cupidos literários, promovem o match com o livro perfeito para cada um. Como Modesto Máximo de Os fantásticos livros voadores de Modesto Máximo, que perde tudo num furacão, mas se encontra em uma biblioteca, somos todos viajantes perdidos até entrarmos em uma.

Existe algo de mágico em histórias guiadas por outras histórias. As vidas dos personagens de O clube de leitura de Jane Austen, por exemplo, talvez não tivessem o mesmo apelo ao leitor se não fossem a cada capítulo gradualmente desfiadas e entrelaçadas aos enredos apaixonantes dos tão conhecidos romances austenianos.

Aliás, clubes de leitura são coisas curiosas. Você começa a participar de um para discutir livros e quando dá por si já está abrindo seu coração e revelando segredos nunca antes contados. Pelo menos foi assim quando eu e algumas amigas começamos o nosso próprio clube, parcialmente inspiradas pelo romance de Karen Joy Fowler.

Como no livro, também tínhamos encontros dedicados às obras de Austen, e nos alternávamos para conduzir as discussões. De alguma forma, cada uma de nós sempre acabava se responsabilizando pelo livro de que precisava naquele momento. É interessante porque inicialmente nem todas se conheciam bem ou tinham algum grau de proximidade, mas com os encontros foi surgindo uma intimidade que permitiu discussões profundas não apenas sobre os livros mas também sobre nossas próprias vidas.

Esse poder incrível que os livros têm de transformar vidas e conectar pessoas é visto em A sociedade literária e a torta de casca de batata. Na pequena ilha de Guernsey, a literatura se mostra não apenas uma forma de resistência à opressão mas também um meio de união entre os personagens, criando uma verdadeira família.

Seja em livrarias, bibliotecas ou clubes de leitura, histórias que falem de livros têm um lugar especial no coração dos leitores. Elas nos lembram por que seguimos lendo.

Mariana Fonseca é médica de família e comunidade, editora da Revista Capitolina e colunista do site Cheiro de Livro. Apaixonada pela literatura desde sempre, lê desde romances de época a biografias, passando por poesia e ficção científica.

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