(Re) leituras e diálogos

Os bastidores da coleção Entrecríticas
26 de setembro de 2014


por Julia Wähmann*

Entrecríticas

Na bagunça da mesa de trabalho, quatro livros se destacam, não apenas pelo colorido de suas capas. A pequena pilha que equilibra os ensaios de Luciana di Leone, Florencia Garramuño, Natalia Brizuela e Diana Klinger começou a ser erguida pela Paloma Vidal, idealizadora da coleção Entrecríticas. Em 2015, outros quatro títulos devem aumentar a pilha, que ao final terá sido feita do trabalho de diversas mãos.

Olhando a minha caixa de entrada de e-mails contabilizo 255 mensagens trocadas com Paloma e as autoras ao longo dos meses de edição de seus livros. Mas não saberia calcular quantas vezes li cada um dos textos: aquela primeira leitura para tomar conhecimento do conteúdo, uma segunda para mapear e padronizar referências e notas bibliográficas, uma terceira para sugerir ajustes aqui e ali, uma quarta para tirar dúvidas relativas à tradução ou a uma citação, e outras tantas para revisar, ter certeza etc. E a cada etapa um diálogo, uma conversa, um “o que você acha?”, outro “prefiro como estava antes”, ou um quase desespero do “preciso mudar um parágrafo, ainda dá tempo?”. Então fazemos haver tempo.

Se editar um livro é um exercício de releitura constante, estabelecer um texto final que se refere a outras obras é uma potente multiplicação desta tarefa. Trabalhar nos livros de Luciana, Florencia, Natalia e Diana é também estabelecer uma relação com os autores que elas evocam, voltando a poesias que eu já havia lido ou descobrindo imagens que se revelaram durante o processo. Se suas reflexões tratam do trânsito da literatura em direção a outras práticas artísticas, editá-las segue movimento semelhante, e trilho um caminho que me leva para diversas outras leituras.

Receber os textos de orelha de Rafael Meire, um precioso colaborador da coleção, é outra espécie de releitura destes ensaios, a esta altura já finalizados. Revendo nossa correspondência, bem mais magra que os mais de 200 e-mails citados, percebo o entusiasmo dele com os textos, como quando os li lá atrás pela primeira vez.

Livros_Entrecriticas

É uma alegria ver os livros ganhando corpo – e mãos. Outra alegria é ver as autoras de perto e, depois de todas as conversas formatadas em tipo Calibri tamanho 12 ou balões de marcações do Word, celebrar com elas em encontros e sotaques reais, seja em Paraty ou no Rio de Janeiro.

Para além das cores, eu dizia, os livros se destacam pela pertinência de seus debates, tão vivos e acalorados em salas de aula e em espaços que pensam a arte contemporânea, e sobretudo por terem se apoiado em uma vasta rede de afetos. Amigos, professores, artistas e outros nomes em comum nas páginas de agradecimentos reforçam essa ideia, e também a de que a participação e a colaboração são essenciais para os modos de produção de hoje.

O resultado dessa empreitada, portanto, só pode ser espelho da proposta perseguida pela Paloma desde antes do trabalho de edição: a formação de uma rede de leitores que vêm somar outras forças e ampliar as conversas iniciadas aqui. Ser parte dessa rede e enxergar a literatura e a arte com uma dose da faísca do olhar das autoras é, afinal, a maior recompensa de pôr a mão na massa.

 

Leia também:
☛ A concepção visual da coleção Entrecríticas
 A literatura fora de si, por Paloma Vidal


Julia Wähmann
é editora de não ficção nacional da Rocco.

TAGS: Diana Klinger, edição, Entrecríticas, Florencia Garramuño, Luciana Di Leone, Natalia Brizuela, Paloma Vidal, teoria literária,

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