Quando a imagem equivale a mil palavras
Entrevista com Laurindo Feliciano, que assina a capa do novo livro de Margaret Atwood13 de janeiro de 2017
Laurindo Feliciano nasceu em Belo Horizonte, em 1980. Desde 2003, vive e trabalha na França, onde cria as pinturas digitais e colagens que fizeram dele um artista requisitado por empresas como British Airways, Nestlé, Penguin, Le Monde, Cosmopolitan, Financial Times e outras. Lá, ele também guarda, em seu estúdio, a imensa coleção de livros antigos, revistas, cartões-postais e cartas que o inspiram em seu trabalho, cuja marca principal é um certo ar nostálgico e a paixão pelo surrealismo, e que agora pode ser conferido também na capa de Dicas da imensidão, que chega às prateleiras este mês. O artista foi escolhido pela Rocco para desenvolver a identidade visual deste e dos próximos livros da premiada escritora canadense Margaret Atwood. A escolha não poderia ser mais acertada: dois gigantes em suas áreas – a imagem e o texto – em perfeita sintonia. Na entrevista abaixo, ele conta um pouco sobre seu trabalho e o processo de criação da capa de Dicas da imensidão.
A capa de Dicas da imensidão marca o início de um novo projeto de identidade visual para a obra da consagrada escritora Margaret Atwood pela Rocco. O que norteou o seu processo criativo neste projeto?
Trabalhei em colaboração com o editor Tiago Lyra e nossas conversas foram fundamentais para que eu entendesse o objetivo da Rocco com esse novo projeto. O mercado editorial de uma maneira geral tem se adaptado nos últimos anos a uma demanda cada vez maior por produtos de qualidade, tanto pelo conteúdo quanto pelo design. Essas exigências me guiaram para desenvolver a identidade visual que será igualmente aplicada nos próximos livros da autora, onde uma ilustração preencherá uma silhueta que sugere alguma personagem da obra.
Quais foram as principais referências e qual foi o maior desafio no desenvolvimento desta capa até chegar ao resultado final?
Minhas referências foram o próprio universo da autora, que permite interpretações que vão muito além do texto. O maior desafio foi sintetizar em uma só imagem um trabalho tão complexo e rico de referências e símbolos. Durante o processo criativo, na medida em que certas ideias tomaram forma, ficou claro que criar uma atmosfera misteriosa e surreal corresponderia melhor ao livro.

Laurindo Feliciano em seu estúdio de trabalho
E as técnicas utilizadas? Colagem? Pintura?
Meu trabalho ficou inicialmente conhecido pelas colagens digitais feitas com imagens tiradas de uma vasta coleção de revistas e livros antigos. Meu processo mudou muito nos últimos dois anos, principalmente por receber encomendas muito específicas, e ao invés de passar muito tempo procurando certos elementos, acabei por desenvolver técnicas de pintura digital que se aproximam da estética da colagem. Hoje, praticamente 90% do meu trabalho são colagens de elementos pintados por mim mesmo.
Você é um artista gráfico e ilustrador premiado. Já havia trabalhado com capa de livro antes? Qual é a principal diferença entre outros trabalhos, como ilustração para jornais e revistas, e o desenvolvimento de uma capa?
Sim, já desenvolvi capas para editoras como Penguin Vintage, HarperCollins ou a Lote 42, no Brasil. Acho que a grande diferença entre qualquer trabalho feito para jornais, revistas e livros é a liberdade criativa dada ao ilustrador. Cada veículo tem uma linha editorial definida e uns mais que os outros dão essa liberdade. A pergunta menciona os prêmios, os que me foram concedidos foram por trabalhos onde a minha independência autoral foi respeitada. Esse é o caso deste projeto com a Rocco e espero poder ser laureado com ele.
Você já conhecia a obra de Margaret Atwood? O que mais o surpreendeu em Dicas da imensidão?
Já conhecia e já havia lido O ano do dilúvio e O conto da Aia. O mais surpreendente em Dicas da imensidão é a maneira como o universo feminino é descrito com tanta sensibilidade e precisão através da descoberta do amor na adolescência em sua fragilidade ou das questões existenciais da meia idade.