Etgar Keret em Paraty, onde participou da Flip 2014. [Créditos: Philipp Lichterbeck]

Já fechamos as malas e estamos nos preparando para começar nossa viagem de volta a Israel. Enquanto guardávamos nossos pertences, eu e meu filho de oito anos também tentávamos “empacotar” as memórias da nossa viagem:

Um passeio de barco em Paraty, uma partida de futebol na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Um macaco comendo na palma de nossas mãos em Salvador, o primeiro copo de açaí que provamos.

A cada lembrança, o sorriso do meu filho ficava maior.

Há apenas duas semanas eu e a minha família estávamos no meio de duas guerras:

Uma envolvendo bombardeios na Faixa de Gaza e disparos de mísseis contra Tel Aviv, e a outra envolvendo ataques e ameaças a mim e a minha esposa por demonstrar empatia pelas crianças e mulheres palestinas mortas e pedir um maior compromisso do nosso governo com a paz.  Neste último mês de guerra, após ser acordado à noite pelo barulho das sirenes e mísseis explodindo sobre sua cabeça e ver seus pais deprimidos e tristes, meu filho parou de sorrir. Vendo agora um grande sorriso em seu rosto bronzeado sei que mesmo que a nossa “bagagem de memórias” um dia se perca com o passar do tempo, o Brasil sempre estará em nossos corações como o lugar muito especial que devolveu a alegria ao rosto do meu filho.

Etgar Keret com um exemplar em inglês de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, ao lado de sua esposa, Shira Geffen, na Praia do Forte, Bahia.

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Etgar Keret nasceu em 1967, em Israel. Autor, cineasta e quadrinista, lançou na Flip 2014 seu primeiro livro no Brasil: a coletânea de contos De repente, uma batida na porta.