Entrando no universo nerd
por André Gordirro19 de maio de 2015
Saudações, Magnífico. Permita que eu me apresente. Sou Luke Skywalker, Cavaleiro Jedi e amigo do Capitão Solo. . . Ops, não. Apresentação errada. Volta, rebobina, deleta.
Salve, caro leitor. Você já deve ter me visto, lido ou ouvido por aí. Sou André Gordirro, jornalista e tradutor especializado no (mas não limitado ao) universo nerd. E agora futuro escritor a ser publicado aqui pela Editora Rocco, dentro do selo Fábrica231. Recebi o convite para falar com vocês neste mês tão nerd, que começou com o Dia de Star Wars (4 de maio) e se encerra com o Dia do Orgulho Nerd (25 de maio). As duas datas, aliás, são guiadas pela Força; a primeira é um trocadilho intraduzível com a sonoridade entre 4 de maio em inglês (May the 4th) e “que a Força esteja com você” (May the Force be with you); e a segunda é a data de estreia nos EUA do primeiro Star Wars, lá em 1977, quando ainda era chamado por aqui apenas de Guerra nas Estrelas e não tinha episódio ou subtítulo agregados.
De cabo a rabo, maio respira nerdice. Mas o que é ser nerd? Há alguns dias, a Mariana Rolier, minha editora aqui na Rocco, pediu que eu fizesse um vídeo curto explicando justamente isso, para ser incluído em um curso voltado ao mercado editorial sobre a “vitória dos nerds” na cultura pop (saiba mais).
No vídeo, eu falo de uma forma mais didática e genérica. Aqui, neste espaço pessoal dividido por nós, eu e você, leitor, dá para ser mais íntimo e pessoal. Ser nerd não é algo que se force a ser, ainda que haja toda uma modinha hoje em torno da nerdice, alavancada pelo sucesso de The Big Bang Theory — o que provocou o surgimento do termo pejorativo “bazingueiro” para indicar esse neonerd de ocasião, que daqui a pouco abandonará tudo aquilo que diz gostar pela próxima moda da vez. Mas tirando essa figura deplorável que o tempo há de apagar, o nerd de verdade é aquele que nem sabia que existia um rótulo para pessoas com seus mesmos gostos peculiares e esquisitos. Você primeiro se descobre apaixonado por ficção científica, fantasia, super-heróis, RPG, videogames, cardgames, bonequinhos — tudo isso ou um pouco disso e daquilo — para então depois sacar que pertence a uma tribo. A(s) mania(s) vêm primeiro, alavancadas pela imaginação, um desejo de explorar novos mundos e realidades. É um escapismo sem drogas, movido a páginas, fotogramas, dados, cartas, xis-triângulo-quadrado-bola.
A minha porta de entrada foi, tal e qual George Lucas, criador da saga que é o símbolo-mor da nerdice, Flash Gordon. O jovem Lucas, lá em Modesto, na Califórnia, pirava nas matinês com o seriado dos anos 1930, estrelado por Buster Crabbe no papel do intrépido aventureiro espacial. O jovem André Gordirro, aqui no Rio, esperava as férias para poder ler os álbuns de Flash Gordon editados pela Ebal, que compilavam as tirinhas dominicais dos anos 1930 e faziam parte da coleção da minha mãe. Dali para Jornada nas Estrelas, que eu assistia com meu avô, e depois Guerra nas Estrelas e Conan, o Bárbaro foi um mero salto no hiperespaço.
Mas até aí, pode-se argumentar que esses eram os entretenimentos da época, e que nem todo mundo que assistiu ou leu se tornou nerd. Justíssimo. Mas esses entretenimentos despertam o nerd dentro de cada um, aquele tipo de pessoa que quer ir além do que leu, viu ou ouviu. De repente, havia uma necessidade de saber se a Aquilônia fazia fronteira com a Hyrkânia (claro que não) e qual era o tipo de nave do Han Solo (uma YT-1300 de fabricação corelliana). Era um conhecimento que me aproximava daqueles universos, dava uma sensação de participação, de imersão. Aquilo tudo não era mero passatempo, e sim o lugar onde eu queria estar passando o tempo — seja na ponte de comando da Enterprise, nos salões de Valfenda, nos leilões de Vento Bravo, nas aulas em Hogwarts ou no porta-aviões aéreo da S.H.I.E.L.D. Num piscar de olhos, tudo isso fez tanto sentido quanto colégio/faculdade/trabalho/casa/relacionamento e se tornou um porto seguro quando algum dos elementos da vida real saía do prumo. Em um momento de aperto, atire a primeira pedra quem nunca quis berrar um expecto patronum ou avante, Vingadores para se salvar da enrascada.E você, amigo leitor, quando houve o despertar para a nerdice? Esse estopim continua firme e forte? No meu caso, os quadrinhos de Flash Gordon viraram uma nostálgica lembrança das férias escolares. E com você, a primeira paixão até hoje captura seu interesse?
André Gordirro é jornalista, crítico de cinema, tradutor e especialista no (mas não limitado ao) universo nerd.
O próprio conceito de nerd mudou com a popularização da internet e celulares. E entre os que jogavam AD&D e Gurps escondidos até o presente onde praticamente todo jogo digital tem elementos de evolução de jogos de rpg, existiram alguns pioneiros de juntar o nicho antes fechado ao que chamamos de cultura pop.
Quem é do tempo do vingador tóxico e a revolta dos nerds não teria como imaginar um mundo com tantos fãs de Big Bang Theory e com uma porcentagem tão alta de gente se qualificando como nerd/geek.
Deixo os parabéns aqui pela nova jornada e pelo livro, você foi e é um dos pioneiros nesta transição de mundos e merece todo o sucesso. Vida longa e próspera, que a força esteja com você, 42!